As constantes notícias de tragédias, em rodovias e via urbanas,
envolvendo jovens motoristas e seus acompanhantes, tornaram-se uma
incômoda e triste rotina na barbárie do trânsito brasileiro. O recente
depoimento em entrevista do conhecido cantor sertanejo, Leonardo – que
deveria ser aproveitado pelo Denatran em uma campanha educativa – sobre o
grave acidente que envolveu seu filho, Pedro Dantas, chamou a atenção:
“Sempre lhe recomendei que ao final de seus shows pernoitasse na mesma
localidade, não importando se fosse uma simples pousada ou um hotel
cinco estrelas. Mas sabe como são esses meninos”, diz Leonardo.
A polícia rodoviária suspeita de que Pedro, que abraçou a carreira do
pai e que faz dupla com o primo Thiago, filho do falecido cantor
Leandro, tenha dormido ao volante quando voltava sozinho de Minas
Gerais, onde havia realizado um show na noite anterior. Tendo o veículo
capotado na rodovia MG-452, próximo à divisa de Goiás e Minas Gerais,
por volta das sete horas da manhã, Pedro está internado e seu estado de
saúde ainda é grave.
Não há dúvida de que os jovens, em seu período de formação social e
afirmação de personalidade, têm o perfil alicerçado na impulsividade, no
desafio ao perigo, no comportamento competitivo exacerbado, na ilusão
de invulnerabilidade. Muitas vezes tal perfil, transportado para o
volante de um carro que, quanto mais potente, maior é a sensação de
poder e falsa perícia e quando associado ao uso de bebida alcoólica,
energéticos, excesso de velocidade, manobras arriscadas, sono e cansaço,
formam uma perigosa mistura, muitas vezes fatal.
CRESCEM OS ACIDENTES COM MOTOS
Os dados do Seguro DPVAT (Danos pessoais causados por veículos
automotores de via terrestre) não mentem. Somente no Estado de São
Paulo, no ano passado, 44% das indenizações pagas foram por óbitos no
trânsito envolvendo jovens entre 18 e 34 anos e, 53%, por invalidez
permanente na mesma faixa etária, conforme divulgado numa recente
matéria de televisão. Com relação a motos, de acordo com o DPVAT, o
número de acidentes, em menos de uma década, triplicou no país. As motos
representam 30% da frota brasileira de veículos e foram responsáveis
por 66% das indenizações pagas nos nove primeiros meses de 2011,
envolvendo 72% de casos de invalidez permanente.
O ACIDENTE QUE MATOU SEIS JOVENS
Aqui também não custa lembrar que no dia 21 de janeiro deste ano, um
gravíssimo acidente de trânsito apagou definitivamente o sorriso de seis
jovens, nos arredores de Brasília. As vítimas voltavam de uma festa no
Recanto das Emas, quando o carro capotou e caiu em um barranco na
BR-070. Um ciclista encontrou os corpos mutilados por volta das seis e
meia da manhã. O motorista, um rapaz de 19 anos, e as passageiras, cinco
moças entre 16 e 19 anos, foram arremessados para fora do veículo.
De acordo com os bombeiros, todos os ocupantes do carro estavam sem o
cinto de segurança e, além desta infração, o carro possuia excesso de
passageiros. O delegado que investigou o acidente disse que, segundo
informações do padrasto do motorista, o jovem que conduzia o veículo,
modelo Astra, pegou o carro sem avisar. Segundo a polícia, ele não tinha
carteira de habilitação.
ENCONTRADOS CORPOS DE JOVENS DESAPARECIDOS
Na madrugada desta quarta-feira (25 de abril), a polícia resgatou o
veículo e os corpos de quatro jovens encontrados submersos no Rio Murici
– o primeiro corpo havia sido resgatado horas antes junto às árvores
próximas ao riacho. Os cinco universitários (duas moças e três rapazes)
estavam desaparecidos há uma semana, após saírem do Espírito Santo com
destino à Bahia para uma festa de aniversário. Os corpos foram
encaminhados ao Instituto Médico Legal de Teixeira de Freitas, ainda na
Bahia.
O perito Alexson Magalhães informou que, no interior do veículo,
foram achados documentos do proprietário e de objetos pessoais que
conferem com os descritos por parentes dos jovens. Magalhães fez parte
da equipe de quatro peritos da polícia técnica que participaram das
buscas. Segundo ele, as vítimas que estavam dentro do carro utilizavam
cinto de segurança no momento em que foram encontradas. Vejam que, se de
fato o caso envolve tão somente um acidente de trânsito, nem o cinto de
segurança foi capaz de salvá-los. “Ainda vamos aguardar os resultados
dos exames da necropsia, que poderão acusar algum sinal de violência nos
corpos e levantar alguma suspeita de crime, mas, a princípio,
trabalhamos com a hipótese de acidente, visto que o carro foi encontrado
em uma distância muito grande do ponto de frenagem, o que pode
configurar um excesso de velocidade, seguido de capotamento”, afirma o
perito.
PREMONIÇÃO
Que tais lamentáveis tragédias sirvam de exemplo para os jovens
motoristas e seus acompanhantes. Cresce constantemente o número de
famílias enlutadas e marcadas eternamente pela dor e tristeza em razão
da violência e da imprudência no trânsito brasileiro. Outras madrugadas
de tragédias no trânsito, principalmente nos de finais de semana e em
longos feriados, virão – triste e inevitável premonição. O carro
continua sendo uma perigosa arma mortífera em mãos de motoristas
imprudentes, jovens ou não. Até quando?
Fonte: portaldotransito.com.br
Texto: Milton Corrêa da Costa (coronel da reserva da PM do Rio de Janeiro)