quinta-feira, 26 de abril de 2012

As constantes notícias de tragédias, em rodovias e via urbanas, envolvendo jovens motoristas e seus acompanhantes, tornaram-se uma incômoda e triste rotina na barbárie do trânsito brasileiro. O recente depoimento em entrevista do conhecido cantor sertanejo, Leonardo – que deveria ser aproveitado pelo Denatran em uma campanha educativa – sobre o grave acidente que envolveu seu filho, Pedro Dantas, chamou a atenção: “Sempre lhe recomendei que ao final de seus shows pernoitasse na mesma localidade, não importando se fosse uma simples pousada ou um hotel cinco estrelas. Mas sabe como são esses meninos”, diz Leonardo.

A polícia rodoviária suspeita de que Pedro, que abraçou a carreira do pai e que faz dupla com o primo Thiago, filho do falecido cantor Leandro, tenha dormido ao volante quando voltava sozinho de Minas Gerais, onde havia realizado um show na noite anterior. Tendo o veículo capotado na rodovia MG-452, próximo à divisa de Goiás e Minas Gerais, por volta das sete horas da manhã, Pedro está internado e seu estado de saúde ainda é grave.

Não há dúvida de que os jovens, em seu período de formação social e afirmação de personalidade, têm o perfil alicerçado na impulsividade, no desafio ao perigo, no comportamento competitivo exacerbado, na ilusão de invulnerabilidade. Muitas vezes tal perfil, transportado para o volante de um carro que, quanto mais potente, maior é a sensação de poder e falsa perícia e quando associado ao uso de bebida alcoólica, energéticos, excesso de velocidade, manobras arriscadas, sono e cansaço, formam uma perigosa mistura, muitas vezes fatal.
CRESCEM OS ACIDENTES COM MOTOS
Os dados do Seguro DPVAT (Danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre) não mentem. Somente no Estado de São Paulo, no ano passado, 44% das indenizações pagas foram por óbitos no trânsito envolvendo jovens entre 18 e 34 anos e, 53%, por invalidez permanente na mesma faixa etária, conforme divulgado numa recente matéria de televisão. Com relação a motos, de acordo com o DPVAT, o número de acidentes, em menos de uma década, triplicou no país. As motos representam 30% da frota brasileira de veículos e foram responsáveis por 66% das indenizações pagas nos nove primeiros meses de 2011, envolvendo 72% de casos de invalidez permanente.
O ACIDENTE QUE MATOU SEIS JOVENS
Aqui também não custa lembrar que no dia 21 de janeiro deste ano, um gravíssimo acidente de trânsito apagou definitivamente o sorriso de seis jovens, nos arredores de Brasília. As vítimas voltavam de uma festa no Recanto das Emas, quando o carro capotou e caiu em um barranco na BR-070. Um ciclista encontrou os corpos mutilados por volta das seis e meia da manhã. O motorista, um rapaz de 19 anos, e as passageiras, cinco moças entre 16 e 19 anos, foram arremessados para fora do veículo.
De acordo com os bombeiros, todos os ocupantes do carro estavam sem o cinto de segurança e, além desta infração, o carro possuia excesso de passageiros. O delegado que investigou o acidente disse que, segundo informações do padrasto do motorista, o jovem que conduzia o veículo, modelo Astra, pegou o carro sem avisar. Segundo a polícia, ele não tinha carteira de habilitação.
ENCONTRADOS CORPOS DE JOVENS DESAPARECIDOS
Na madrugada desta quarta-feira (25 de abril), a polícia resgatou o veículo e os corpos de quatro jovens encontrados submersos no Rio Murici – o primeiro corpo havia sido resgatado horas antes junto às árvores próximas ao riacho. Os cinco universitários (duas moças e três rapazes) estavam desaparecidos há uma semana, após saírem do Espírito Santo com destino à Bahia para uma festa de aniversário. Os corpos foram encaminhados ao Instituto Médico Legal de Teixeira de Freitas, ainda na Bahia.

O perito Alexson Magalhães informou que, no interior do veículo, foram achados documentos do proprietário e de objetos pessoais que conferem com os descritos por parentes dos jovens. Magalhães fez parte da equipe de quatro peritos da polícia técnica que participaram das buscas. Segundo ele, as vítimas que estavam dentro do carro utilizavam cinto de segurança no momento em que foram encontradas. Vejam que, se de fato o caso envolve tão somente um acidente de trânsito, nem o cinto de segurança foi capaz de salvá-los. “Ainda vamos aguardar os resultados dos exames da necropsia, que poderão acusar algum sinal de violência nos corpos e levantar alguma suspeita de crime, mas, a princípio, trabalhamos com a hipótese de acidente, visto que o carro foi encontrado em uma distância muito grande do ponto de frenagem, o que pode configurar um excesso de velocidade, seguido de capotamento”, afirma o perito.
PREMONIÇÃO
Que tais lamentáveis tragédias sirvam de exemplo para os jovens motoristas e seus acompanhantes. Cresce constantemente o número de famílias enlutadas e marcadas eternamente pela dor e tristeza em razão da violência e da imprudência no trânsito brasileiro. Outras madrugadas de tragédias no trânsito, principalmente nos de finais de semana e em longos feriados, virão – triste e inevitável premonição. O carro continua sendo uma perigosa arma mortífera em mãos de motoristas imprudentes, jovens ou não. Até quando?

Fonte: portaldotransito.com.br
Texto: Milton Corrêa da Costa (coronel da reserva da PM do Rio de Janeiro)