O método decomposto de aprendizagem veicular começa a ser difundido
no Brasil por meio de encontros, rodas de conversa e paradas pedagógicas
com os principais envolvidos no processo de ensinar e aprender a
dirigir. A ideia é compreender que somente a aprendizagem significativa
pode pôr fim ao adestramento que ensina a contar voltinhas no volante e a
enfeitar o carro com marcações coloridas para fazer baliza, dentre
outras memorizações que aumentamos índices de reprovação.
Detrans, CFC´s, diretores gerais, de ensino, instrutores e
examinadores abrem-se ao diálogo franco, desarmam-se, deixam de
tratar-se como opositores um do outro e passam a identificar
possibilidades e buscar soluções conjuntas. Passam a refletir sobre que
tipo de condutores estão formando, já que estamos falando de Centro de
Formação de Condutores (CFC) e não de Centro de Adestramento de
Condutores (CAC).
Desenvolvido na Suécia no início do século passado e difundido em
autoescolas italianas este método se diferencia pela construção de
conceitos, apreensão de significados e construção de sentidos que
proporcionam a aprendizagem significativa da direção veicular.
Primeiro o aluno aprende a engatinhar, depois aprende a andar e a
desenvolver a passada até caminhar com firmeza. Decompõe as dificuldades
passo a passo e o aluno só avança para uma nova etapa quando concluiu a
anterior. Domine os pedais do carro e ele deixará de afogar ou “morrer”
durante as aulas, facilitará o comando em ladeiras e as demais
aprendizagens.
Antes mesmo do aluno sentar no banco do motorista pela primeira vez, o
instrutor prático resgata, por meio da interdisciplinaridade, os
conhecimentos construídos nas aulas teóricas para que sejam incorporados
às atitudes dos alunos ao volante. Inclusive os valores de convivência
como respeito, tolerância, gentileza e humanidade.
O instrutor prático trabalha conceitos sobre trânsito enquanto espaço
compartilhado, o conceito de mobilidade humana enquanto o trânsito
feito por pessoas, o conceito de dirigir não como um ato de colocar o
carro em movimento em linha reta, mas de dominá-lo em todas as
situações, inclusive com baixa ou quase nenhuma velocidade.
Treinar o olhar: olha bem por onde vais, pois dirigirás por onde
olhas! Entender que nas primeiras aulas de direção a atenção
predominante será a motora, em que o aluno necessita do apoio
vísuo-manual, tem necessidade de acompanhar todos os movimentos com os
olhos. Isso explica porque, nas primeiras aulas, o aluno aciona a chave
de seta, buzina e parabrisas juntos. Compreender as dificuldades do
aluno e ajudá-lo a desenvolver a atenção concentrada, sustentada e
difusa.
O método decomposto de aprendizagem veicular ensina o aluno a buscar a
negociação no trânsito pelo contato visual com o outro motorista para
saber ler suas intenções e comportamentos. Em vez de uma explicação
simples sobre uso de pedais e jogar o aluno no trânsito de uma vez, cada
pedal é explorado antes em seus diferentes usos e situações ainda no
pátio. Depois exploram-se os movimentos de volante para que o futuro
condutor depois de habilitado não fique se perguntando para que lado vai
a traseira do carro quando ele vira o volante numa manobra.
Aprende-se a conhecer bem os retrovisores e o que cada um deles
mostra; que o retrovisor de fora tem espelhos convexos para caber mais
imagens e cenários do trânsito à sua volta e que o retrovisor interno
mostra aquilo que o olho humano registra. O aluno aprende a usar o freio
motor, as diferentes formas de frenagem, inclusive baixando uma marcha
como recurso auxiliar.
O acolhimento emocional é fundamental para compreender que cada aluno
é um ser individual, com características próprias e reações emocionais
que vão interferir no aprendizado. O aluno é questionado quanto aos
motivos que o levaram a aprender a dirigir e qual significado isso tem
em sua vida para estabelecer vínculos com a importância prática do ato
de dirigir.
A aprendizagem significativa estimula a autonomia do aluno, a ser o
agente da própria aprendizagem em vez de criar a figura do instrutor
como muleta psicológica que vai fazer com que muitos, depois de
habilitados, engavetem a CNH por anos!
Não se ensina só a técnica, mas também, na prática, os quatro pilares
da educação para enfrentar os desafios do século 21: saber conhecer o
veículo para dirigi-lo com absoluto controle; saber fazer de forma
significativa o que aprendeu na fase de formação no CFC; saber ser um
cidadão no trânsito e saber viver em sociedade.
Trata-se de um processo ativo do aluno em que ele age na direção de
aprender. Assim, o conceito sobre o ato de dirigir será ampliado porque o
aluno passa a ser capaz de pensar, por ele mesmo, numa ação própria
dele, o ato de dirigir.
Aos alunos, proporciona a aprendizagem significativa. Aos envolvidos
no ato de ensinar a dirigir, ensina o trabalho compartilhado e a
responsabilidade conjunta, já que quando um aluno reprova no teste
prático, todos reprovam junto com ele: CFC’s, diretores de ensino,
instrutores, examinadores e Detran.