Quando um aluno reprova no teste de direção do Detran, ele não
reprova sozinho! Todo o sistema reprova junto. É muito mais fácil e
cômodo apontar dedos para o aluno ou para o instrutor como se eles
fossem os únicos culpados.
Os instrutores também têm lá as suas dificuldades dentre os baixos
salários, a falta de incentivo para a formação e qualificação
permanente, a preocupação em não causar acidentes com o carro da
autoescola, além do estresse de ensinar a dirigir em um trânsito cada
dia mais confuso e motoristas intolerantes com os erros dos aprendizes.
Muitos instrutores adoecem: passam muitas horas do dia sentados e
desenvolvem trombose, varizes, dores lombares, e no caso dos homens, há
quem piore o quadro de complicações da próstata devido aos riscos
ocupacionais.
Mas o maior problema ainda não é esse: está na falta de visão de
alguns gestores de CFC que ainda encaram a autoescola apenas como um
negócio, uma empresa, sem dar a devida importância à parte pedagógica.
Bato muito na tecla pedagógica, na necessidade de revisão dos planos
pedagógicos, formação e qualificação permanente do instrutor, melhoria
das condições de trabalho, mais envolvimento e trabalho compartilhado
entre instrutores e diretores de ensino, principalmente, no fim do
adestramento do aluno no ensino da direção veicular.
É certo que quem ensina a dirigir é o instrutor, mas isso não
justifica sentá-lo sozinho no banco dos réus das reprovações. Pensar
assim seria eximir os diretores de ensino, os gestores de CFC e Detrans
de suas responsabilidades.
No meu dia a dia no estudo e vivência das questões pedagógicas
referentes ao modo como se ensina e como se aprende a dirigir no Brasil,
interajo muito com alunos e instrutores. Conheço o grito de socorro
preso na garganta de cada um. Os alunos clamam por um ensino do ato de
dirigir que seja significativo, que lhes dê segurança e autonomia. Não
se contentam, sofrem e reprovam porque ainda se ensina a fazer o carro
andar com base na tremidinha de volante; a fazer baliza contando
voltinhas, decorando o interior do carro com bolinhas e fitinhas
coloridas. Aí no dia da prova o examinador coloca o braço em cima das
marcações e o aluno reprova!
Já os instrutores queixam-se de que se veem obrigados a ensinar a
dirigir dessa forma porque senão o aluno não passa no exame do Detran, a
autoescola dispara nas reprovações e vai culpar o instrutor. Como se
atividade-fim da autoescola fosse atingir metas de aprovação!
Há absurdos velados que pouca gente conhece: muitos instrutores só
podem abastecer o carro uma vez por semana, o veículo é rastreado, não
tem seguro e se acontecer algum dano ou acidente vai ser descontado do
salário. Como se o risco natural da atividade econômica dos CFC não
incluísse essas situações!
Os Detrans procuram fazer a sua parte, fiscalizando as autoescolas,
mas uma coisa é certa: nem a obrigação de aprovar mais de 60% dos
alunos, de apresentar plano pedagógico atualizado ou de fazer curso de
treinamento e reciclagem extraordinários como dispõe a Resolução 358/10
do CONTRAN terão os efeitos esperados enquanto o problema não for
tratado no contexto. É preciso, também, ampliar a escuta para os
instrutores, identificar e proibir certos abusos na relação entre o CFC e
seus profissionais.
É preciso levantar o tapete das reprovações nos exames de direção no
Brasil e enxergar bem o que tem embaixo dele. Só assim, se poderá
compreender e cobrar as responsabilidades de cada um toda vez que um
futuro condutor for reprovado ou habilitado para dirigir mal preparado.
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