Essa é uma pergunta frequente nas palestras de formação, paradas pedagógicas e rodas
de conversa com Detrans, gestores de CFC e seus profissionais que
revela uma preocupação constante, principalmente diante das cobranças da
resolução 358/10 acerca dos índices de reprovação nos testes práticos.
Sabemos que a questão é ampla, complexa, visceral e que a
compreensão dessa dificuldade no cotidiano dos instrutores de direção
tem que ser analisada no contexto. Mas essa afirmação de um diretor de
ensino essa semana no Blog Aprendendo a Dirigir soa preocupante porque atribui, de novo, e quase que exclusivamente a culpa da reprovação ao aluno:
“Posso garantir que a maioria absoluta das reprovações em
exame são de responsabilidade dos alunos.” O diretor de ensino em
questão explica que 90% dos candidatos vão para o exame logo após
completarem a carga
mínima exigida (20 aulas), mesmo tendo sido alertados pelo instrutor de
que ainda não domina os fundamentos básicos exigidos no exame e,
portanto, tem chances mínimas de aprovação. Como o aluno decide ser
avaliado assim mesmo e o CFC não tem o poder de vetar o agendamento do
exame, o candidato, na maioria das vezes, é reprovado. E faz a seguinte
pergunta: “Que responsabilidade tem quem alertou e não foi ouvido?"
Assim como todos no processo de habilitação tem um papel e
responsabilidades específicas, não é diferente com o aluno e aquele que
insiste em ir para a prova despreparado mesmo depois de alertado tem
sim, responsabilidade sobre a sua decisão e a sua reprovação. Mas, não
são todos que se recusam a fazer mais aulas. Na maioria das vezes eles
sempre pagam. E muitas aulas, mas continuam reincidentes na reprovação.
Quando digo que a questão das 20 horas é estrutural é porque quem
determina essa carga horária é o Contran e quem ensina a dirigir não
tem, em tese, o que fazer a não ser se virar nos 20 para tentar ensinar
os comandos básicos do veículo neste tempo caso os alunos discordem de
comprar aulas complementares.
A visão dos instrutores e dos diretores de ensino é de que 20 aulas é
pouco para ensinar todos os comandos básicos de um ato tão complexo
quanto dirigir a uma pessoa que nunca sentou no banco do motorista
antes. É de que o aluno não está pronto para a prova, o instrutor
alerta, aponta as falhas e o aluno se recusa a comprar mais aulas porque
a habilitação vai ficar ainda mais cara. Daí, hipoteticamente, a culpa
da reprovação passa a ser do aluno.
A visão do aluno é de que já pagou muitas aulas e não conseguiu
aprender porque o instrutor não explica direito, não consegue entender
as suas dificuldades, manda fazer os comandos sem explicar o sentido de
fazê-los e como fazê-los. Aí o aluno vai comprando pacotes e pacotes de
aula e continua patinando sem sair do lugar.
Como vemos, tudo se volta para o modo como se ensina e se aprende.
Para a parte pedagógica, salvaguardados os demais fatores que implicam
para a reprovação no âmbito das responsabilidades de todos os envolvidos
no processo de habilitação.
Se 20 horas é pouco para um aluno aprender a dirigir, então que se
busque uma forma séria de mobilização para fazer com que eles lá em cima
entendam isso e aumentem a carga horária.
Mas, o fato é que se a aprendizagem não for significativa para o
aluno, se ele não construir conceitos sobre o que está fazendo, se
continuarem reproduzindo os métodos de adestramento, se não tiver
qualidade didática e pedagógica nas aulas, podem aumentar para 100
horas/aula a parte prática que ainda assim o aluno não conseguirá
aprender.
As pessoas não aprendem em tempos iguais: uns aprendem mais rápido,
outros não. O ensino não é linear porque as pessoas não aprendem todas
do mesmo jeito, da mesma forma, tem características e necessidades
diferentes e isso precisa ser compreendido por quem ensina alguma coisa,
principalmente por quem ensina a dirigir.
Em relação aos alunos que insistem em ir para a prova com
dificuldades apontadas pelos instrutores, é uma questão de se trabalhar e
se negociar com eles a necessidade de mais aulas: entender os seus
motivos, esclarecê-los, ajudá-los a entender a necessidade de domínio
dos fundamentos básicos, estimulá-los à autoavaliação, procurar
ajudá-los em suas dificuldades.
20 horas/aula de aulas práticas é pouco? Quem ensina a dirigir diz
que sim, o que aumenta o desafio: a qualidade das aulas práticas. É
muito difícil despertar o interesse dos alunos para trabalharem com
aquilo que não os provoca, que não os desafia, que não os interessa;
para aquilo que eles ainda não encontraram o motivo para a ação de
aprender. A motivação é do aluno, mas o incentivo vem do instrutor. Como
estamos despertando nos alunos essa motivação no melhor estilo “se vira
nos 20?”.
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