Em paralelo ao crescimento do número de mortes em acidentes com
motos, como aponta o Ministério da Saúde, uma série de projetos de lei
tramita no Senado Federal e na Câmara dos Deputados em busca de soluções
para os índices negativos. Além das possíveis mudanças, o Departamento
Nacional de Trânsito (Denatran) afirmou que pretende exigir simuladores
nas aulas de autoescolas para formação de motociclistas a partir de
2015.
O Denatran aguarda o protótipo desenvolvido pela Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC) para esse tipo de veículo. A UFSC é
responsável pelo simulador que será obrigatório a partir do mês que vem
para quem pretende tirar habilitação para carros (categoria B). A ideia é
que a tela replique situações reais do trânsito para o condutor
aprender a lidar com elas.
Especialistas ouvidos apontam as falhas no processo para obter a
Carteira Nacional de Habilitação (CNH) como um dos grandes causadores de
acidentes com motos.
"É necessário mudar o aprendizado e o exame. O que se vê hoje é um
condicionamento do motociclista para passar no teste", explica Magnelson
Carlos de Souza, presidente da Federação Nacional das Autoescolas
(Feneauto) e da Câmara Temática de Formação e Habilitação de Condutores
do Conselho Nacional de Trânsito (Contran).
Entre os problemas apontados por ele estão o fato de o motociclista
fazer as aulas apenas em locais fechados, sem ter experiência no
trânsito. "O simulador trará situações de risco que o motociclista
enfrentará nas ruas", diz.
"Para o candidato a obter sua habilitação existe um 'adestramento'
para cumprir exigências mínimas do exame", opina o instrutor André
Garcia, que ministra cursos particulares de direção defensiva para
motos. Segundo Garcia, não aprender a trocar de marchas nem frear
corretamente são pontos cruciais da má formação de novos condutores.
O Denatran diz que não tem autonomia para criar novas leis, o que
fica a cargo de Senado e Câmara, mas trabalha com suas Câmaras
Temáticas, discutindo possíveis alterações no sistema de educação para a
CNH, além da introdução dos simuladores.
"Nossa proposta é que se mude radicalmente o exame para futuros
motociclistas, aprofundando os ensinamentos básicos como frenagem,
trocas de marchas e postura", resume Magnelson de Souza.
Projetos de lei
Na Câmara e Senado há projetos de lei que vão da obrigatoriedade de airbag para motociclistas e de freios ABS para motos – os equipamento estarão em todos carros novos até 2014 - a restrições à circulação. Todas as propostas ainda estão em fase preliminar de análise.
Na Câmara e Senado há projetos de lei que vão da obrigatoriedade de airbag para motociclistas e de freios ABS para motos – os equipamento estarão em todos carros novos até 2014 - a restrições à circulação. Todas as propostas ainda estão em fase preliminar de análise.
Existem ainda projetos que preveem o uso de antenas aparadoras de
linha de pipa, agora obrigatórias para motoboys e mototaxistas, e outro
que envolve mudanças estruturais nas estradas, como a instalação de
guard-rails que protejam os motociclistas, já que os normais podem
aumentar os danos com o chamado "efeito fatiador".
O deputado federal Walter Feldman (PSDB-SP) é autor de uma proposta
que visa proibir a circulação de motos no corredor, liberando apenas
quando o trânsito estiver parado e limitando a velocidade a 20 km/h. "A
gravidade e fatalidade desses acidentes se dão de forma diretamente
proporcional à velocidade", explica Feldman.
De acordo com o Denatran, um artigo do Código de Trânsito que previa a
proibição de motos no corredor foi vetado em 1997 pelo então presidente
Fernando Henrique Cardoso.
Especialistas questionam a eficácia dessa medida. "Pela dinâmica da
motocicleta o corredor é necessário. Ficar atrás dos carros ou no meio
da faixa tira completamente o campo de visão do motociclista. O grande
problema do corredor é, como causa primária, a mudança de faixa sem
sinalização do veículo maior, e, como causa secundária ou agravante, o
excesso de velocidade", afirma Garcia, que, além de instrutor, é
advogado e especialista em gestão do trânsito.
Airbag e ABS
No Senado tramita um projeto para tornar obrigatório o uso de airbags para motociclistas. O produto ainda é pouco difundido no Brasil e o preço varia de R$ 800 a R$ 2.500.
No Senado tramita um projeto para tornar obrigatório o uso de airbags para motociclistas. O produto ainda é pouco difundido no Brasil e o preço varia de R$ 800 a R$ 2.500.
"Ainda é caro sim, embora já tenhamos visto produtos similares ao do
principal fabricante que lançou no Brasil com preços mais baixos. Ainda
sim tem custo elevado. Por isso a necessidade de algum incentivo do
governo para que a produção seja aumentada e que investidores
brasileiros e estrangeiros possam ter interesse em produzir em uma
escala maior, barateando o custo”, afirma o senador Humberto Costa
(PT-PE), autor da ideia.
Atualmente, para motociclistas em geral, a lei brasileira só exige o
capacete. Ela fala também em vestimenta adequada, mas é preciso que esse
item sejam regulamentado pelo Denatran, o que não ocorreu até agora.
Na Europa e no Japão já existe grande demanda pelo airbag para
motociclistas, apesar de não ser um item obrigatório. Seguindo outro
caminho, o da prevenção das quedas, a partir de 2016 todas as motos
vendidas na Europa, com cilindradas superiores a 125 cm³, serão
obrigadas a ter freios ABS de série. No Brasil, um projeto de lei do
senador Cyro Miranda (PSDB-GO) pretende que esse equipamento seja
exigido para todos os veículos automotores - em 2014, será obrigatório
para carros novos.
A Bosch, empresa que produz o ABS para motos, afirma que 47% dos
acidentes são causados por frenagem equivocada ou hesitante, utilizando
como base o banco de dados da Alemanha, conhecido pela sigla GIDAS. A
função do sistema ABS (Antilock Brake System) é impedir que as rodas
travem durante uma freada forte, fazendo o veículo derrapar.
Motos no exterior
Em países europeus como França, Itália e Espanha a habilitação B (para carros) possibilita ao usuário também utilizar veículos de duas rodas motorizados. "Lá a categoria 'B' pode utilizar motoneta (scooter) até 33 cv", explica André Garcia. Segundo ele, a finalidade é educar, já que o candidato, mesmo que jamais utilize um scooter, compreenderá a dinâmica do veículo de duas rodas e o respeitará na via pública e a mobilidade.
Em países europeus como França, Itália e Espanha a habilitação B (para carros) possibilita ao usuário também utilizar veículos de duas rodas motorizados. "Lá a categoria 'B' pode utilizar motoneta (scooter) até 33 cv", explica André Garcia. Segundo ele, a finalidade é educar, já que o candidato, mesmo que jamais utilize um scooter, compreenderá a dinâmica do veículo de duas rodas e o respeitará na via pública e a mobilidade.
Além disso, o sistema europeu de habilitação é divido em degraus
relacionados à idade, à experiência do motociclista e ao tipo de moto. É
possível obter a carteira mais básica a partir dos 17 anos. A mais
ampla, com 24 anos, ou aos 21, tendo dois anos de experiência na
intermediária.
"Acredito que a formação prática para tirar carteira é mais completa
na Europa. Vejo mais motociclistas tendo noção dos limites de suas
motos, mesmo com pouca experiência, enquanto no Brasil vejo muito mais o
motociclista aprendendo por si mesmo e cometendo mais imprudências",
explica o motociclista franco-brasileiro Eric Breuillac, que viveu por
anos em Paris e agora mora em Paraty (RJ), onde possui uma oficina para
motocicletas.
Nos EUA, um estudo recente encomendado por seguradoras apontou a alta
no número de pedidos de indenização em Michigan depois que o estado
passou a exigir o uso de capacete apenas de motociclistas com menos de
21 anos -por 40 anos, essa obrigatoriedade era para todos os usuários.
O abrandamento dessa lei tem sido uma tendência naquele país, onde
cada estado define suas regras de trânsito. Atualmente, 19 deles e o
Distrito de Columbia ainda exigem que todos os motociclistas usem o
equipamento e 28 só obrigam uma parte deles, geralmente os mais novos.
Três estados não têm lei sobre o assunto.
Fonte: PortalTransito (por Talita Inaba)
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