O modelo de financiamento
do transporte público essencialmente pela tarifa cobrada do usuário
está esgotado, na avaliação do Instituto de Política Econômica Aplicada
(Ipea).
Em estudo divulgado
ontem, o instituto sugere outras formas de bancar esse sistema, como
aumento de tributos sobre donos de automóveis e empresas. Do final dos
anos 90 até hoje, o número de pessoas que andam de ônibus caiu de 20% a
25% no Brasil, o que contribuiu para o aumento da tarifa.
A pesquisa aponta que no Brasil o financiamento do transporte público urbano
é, em geral, 100% financiado pelos usuários por meio da tarifa. No caso
de São Paulo, esse índice é de 80%. Na média das cidades europeias, é
50%, mostra a pesquisa. O pesquisador do Ipea Carlos Henrique de
Carvalho considera que não é possível melhorar a qualidade do transporte
público sem ampliar as fontes de receita do setor.
Na sua opinião,
toda a sociedade deve bancar o custo do ônibus, porque todos se
beneficiam dele, inclusive as indústrias e o comércio, já que empregados
e consumidores usam o meio para se deslocar. "A sociedade está cobrando
soluções para que a gente tenha transporte mais barato e de mais
qualidade. Conseguir isso com o sistema de hoje, todo baseado em tarifa
é, complicado", disse.
Passagem cara
A pesquisa mostra que nos últimos anos, as tarifas de ônibus subiram
mais que os custos de carros e motos, tornando o transporte privado
relativamente mais barato. De 2000 a 2012, o preço cobrado dos usuários
de ônibus ficaram em média 192% mais caros, uma alta que supera a
inflação geral do país no período, de 125%, medida pelo IPCA. "Não é a
toa que as coisas chegaram a esse ponto de insatisfação popular", disse
Carvalho.
Já o custo do transporte privado, que inclui os gastos com a compra
de carros e motos, manutenção e tarifas de trânsito subiu menos, 44%,
portanto, abaixo da inflação. Para o pesquisador do Ipea, o barateamento
do transporte privado em relação ao público é a principal causa da
redução do número de usuários de ônibus no período. Do final dos anos 90
até hoje, o número de pessoas que andam de ônibus caiu de 20% a 25% no
Brasil. Segundo ele, esse é um dos fatores que leva ao aumento das
tarifas de ônibus, pois significa que menos gente terá que pagar pelo
mesmo serviço.
Além disso, destaca Carvalho, houve aumento do preços de insumos do
transporte de ônibus, muitos deles fornecidos por oligopólios. Já o
diesel ficou mais caro devido a retirada de subsídios públicos após o
fim do monopólio estatal sobre o setor de petróleo. "É justo, então, que
o usuário de automóveis pague parte do custo. A melhor forma seria
taxar mais o uso do carro", afirma Carvalho.
Fonte: Diário do Nordeste
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